Incômodos vários me acompanharam ao longo da leitura destas páginas, mas também prazeres muitos, ambos começando já desde o título: Minha Murilo. Palavras que costumeiramente não andam juntas, aqui podem estar sinalizando seja a dificuldade em lidar com o gênero de uma personagem trans, seja a experiência inclassificável de gênero dessa mesma personagem, e será preciso avançar bastante na leitura, talvez até às suas últimas páginas, para decidir entre qualquer das possibilidades (se é que haverá alguma certeza a respeito disso, no final das contas). Novela que aborda a instabilidade que as noções de homem e mulher passaram a assumir a partir do momento que a existência trans se fez incontornável, nele também se percebe esse fascínio, essa curiosidade em entender o que leva uma pessoa a se reivindicar de outro gênero que não o do seu nascimento. Quando se dá essa descoberta? Não há arrependimento? [...]