A Igreja Católica está sob ataque. Ao longo dos últimos anos, essa instituição milenar vem sendo alvo de inúmeras acusações de abusos sexuais contra menores praticados pelos próprios padres, de maneira sistemática e disseminada, em casos tristes e grotescos que não param de vir à tona no mundo todo. No entanto, nada a respeito de pedofilia na Igreja católica é novidade: escândalos desse tipo vêm acontecendo desde o ano 153, e estudos mostram que atualmente assustadores 9% de todo o clero católico poderiam estar envolvidos nesse tipo de crime. Neste livro - inédito por sua coragem -, o renomado advogado britânico Geoffrey Robertson explica por que uma linhagem de crimes tão antiga não apenas se perpetuou até nossos dias como se dissemina cada vez mais. A principal razão é a ampla impunidade assegurada pelo direito canônico, código legal exclusivo da Igreja, que rege com punições ínfimas tais crimes, considerados pelo Vaticano como meros pecados. Além disso, o sistema católico costuma exigir o silêncio das vítimas, esconder os fatos das autoridades e realocar os padres molestadores para novas paróquias, onde podem reincidir livremente. Tal sistema de impunidade é administrado pela Congregação para a Doutrina da Fé, que foi comandada pelo cardeal Joseph Ratzinger, atual papa, durante quase um quarto de século. E o que por sua vez dificulta a responsabilização do Vaticano pelo acobertamento de tais crimes é a imunidade legal que lhe é garantida por ser um Estado soberano (desde o espúrio Tratado de Latrão, assinado pelo ditador Benito Mussolini em 1929), o que pressupõe um foro privilegiado.