"Falar sobre a cidade é tarefa bastante instigante. A cidade é o tema que está na ordem do dia. Na abertura de seu livro, A imagem da cidade, Kevin Lynch diz que contemplar as cidades pode ser extremamente agradável, por mais vulgar que a paisagem possa vir a ser. Lynch chama a atenção para o fato de a cidade ser uma construção no espaço, tal qual uma obra arquitetônica, mas uma construção em grande escala, que só pode ser percebida no decorrer de longos períodos de tempo. A cidade é sempre um organismo em mutação, pois a cada instante há algo mais que a vista não alcança, mais do que o ouvido pode perceber, uma composição nova em um cenário novo que espera para ser analisado. A cidade pode ser percebida por fragmentos de imagens refletidas em objetivas, olhos ou recantos envidraçados. As grandes cidades, dilaceradas pelo crescimento desordenado e por um multiculturalismo conflitante, são o cenário perfeito para o declínio das metanarrativas históricas, das utopias ""que imaginaram um desenvolvimento humano ascendente e coeso através do tempo"". Mesmo nas cidades impregnadas de signos do passado, como a capital mexicana ou Lisboa, o encurtamento do presente e a dúvida diante do futuro incontrolável são fatores redutores das experiências temporais que privilegiam as conexões simultâneas."