Ao contrário do que poderíamos supor, [as cartas de Havel] não são um documento de langor melancólico, partido de um homem prostrado pelo tormento, mas relatos francos, que nos tiram o fôlego pela coragem resoluta, pela lucidez altiva, pela dignidade inquebrantável. (...) As características mais peculiares dos registros de Havel são o calor humano, a descrição bem concreta e crua das suas condições físicas e de ânimo e um imbalável sentido existencial de responsabilidade histórica, referido tanto a si e à sua obra quanto a seu tempo, à sua sociedade e a um sentido de cultura fundado sobre a construção solidária de uma liberdade contingente, de que é ele mesmo um dos mais sublimes propositores e fundadores. Estas Cartas representam, nesse sentido, o mais autêntico resgate daquele renascimento tcheco pioneiro, aquele grito rebelde jamais abafado, que proclamava a vontade irredutível da autonomia, na utopia plural, aberta e relativista de Praga.