A névoa melancólica e reflexiva que paira sobre os poemas da escritora portuguesa Renata Correia Botelho merece ser contemplada. Em pouco mais de 40 páginas, uma voz, tão incisiva quanto lírica, aproxima o a leitor a de questões como a morte, a ausência e seus contrários. Se, como diz um dos textos, o poema só se forma no fio da navalha, temos aqui a oportunidade de divisar o abismo, sentindo mais que pensando, às vezes. Dos recursos que a poeta mobiliza a fim de obter seus poemas talvez o mais marcante seja a metáfora, uma mescla de sentidos às vezes improváveis, mas que funcionam na propulsão das sensações que sua breve poesia traz. A pinçar alguns versos, à página 16, eles propõem o sentipensar de que um dos Pessoa já tratava: o coração que me deixaste é uma casa difícil de habitar. Poemas também são difíceis de habitar. Talvez não sejam mesmo moradas, como as entendemos. (...) A poeta apresenta aqui uma coletânea de canções tristes, mas persistentes e pertinentes.