Este trabalho tem como questão um dos temas mais conhecidos das obras de Frege – a sua teoria semântica articulada a partir da distinção entre sentido e referência. Nosso interesse é expor a transição do período que compreende a sua concepção semântica apresentada na obra Conceitografia (Begriffsschrift) publicada em 1879 para o período posterior situado a partir da distinção entre sentido e referência, enunciada, pela primeira vez, em sua conferência Função e Conceito (Funktion und Begriff) proferida na Universidade de Jena. Porém, uma das obras que chamou a atenção, de modo expressivo, da sociedade científica e filosófica e, por isso, atingiu um grande número de leitores, é, certamente, o seu artigo publicado em 1892 com o título Sobre o Sentido e a Referência (Über Sinn und Bedeutung). Neste texto Frege expõe uma de suas teorias mais célebres. Seu objetivo é aplicar a distinção entre sentido e referência a nomes próprios e a proposições a fim de fazer ver, como será exposto no decorrer do trabalho, que as expressões têm, não apenas um sentido, mas também uma referência. Para muitos leitores contemporâneos, Frege articulou sua concepção semântica, isto é, a distinção entre sentido e referência, somente a partir das publicações de 1891 e 1892 respectivamente, a conferência Função e Conceito e o artigo Sobre o Sentido e a Referência. No entanto, parece-nos que Frege preocupa-se com a elaboração de uma teoria semântica para nomes próprios décadas antes da publicação destes textos. Nossa hipótese é que o artigo Sobre o Sentido e a Referência não apresenta, necessariamente, temas totalmente novos sobre as relações entre a linguagem e o que lhe é exterior, mas apenas retoma a solução para antigos problemas que pareciam estar plenamente resolvidos na obra Conceitografia. Trataremos destas questões que norteiam nosso trabalho em quatro capítulos.