“Café Azedo” nasceu de conversas regadas a baldes de café, tapioca e pão de queijo, intercâmbio de ideias, de vivências, de referências literárias e dramatúrgicas, muitas risadas, algumas lágrimas, e às vezes até confidências. Assim foi o processo de transformação do conto Café Azedo, (“Onde os Pombos Dormem”, Ed. Benfazeja) em peça. A partir da personagem-tronco, Café, ramificaram Cacos e Mililitros, que já apareciam secundariamente no conto original. Café, Cacos e Mililitros. As três observam o movimento em uma cafeteria refletindo sobre si mesmas e as pessoas que entram, saem ou ficam. Intuem seus sentimentos, simpatizam ou antipatizam, sempre no plano imaginário, em fluxo de pensamento. Sem dialogar efetivamente, elas se comunicam no campo das identificações e projeções e a identidade de cada uma vai se revelando, aos poucos. A linguagem poética, quase onírica, nos defronta com nossas próprias histórias, escolhas e renúncias. O texto aposta no poder dos encontros, quando um sorriso ou um gesto produzem micro – às vezes macro – transformações. A criação da peça foi um mergulho de cinco mulheres no universo feminino. Nosso universo. Fomos nos engolindo e nos deixando engolir uma pela outra. Tão diferentes: uma escritora, três atrizes, uma diretora. Cinco mulheres com histórias díspares, cada uma com suas dores, suas cores. Neste mergulho fomos nos dissolvendo e misturando nuances, encontrando matizes comuns. Nos reconhecemos um pouco no espelho do olhar da outra. E, aos poucos, sem perceber, éramos um grupo. Não mais um agrupamento de mulheres. Tínhamos realmente um projeto comum. Nossa reunião virou uma confluência, profundamente empática. Sem julgamento, mas acolhimento. No decorrer do processo nos vimos emprestando o rosto para as personagens, tomando seus rostos emprestados. E assim nasceu a peça, inserida no contexto de (re)união feminina.