Se, de outro modo, compreendermos o concreto como contrário ao pensar, aí, talvez, inicialmente consigamos ver algum sentido provisório. Dizemos provisório porque precisamos tentar entender o que aqui se está compreendendo por concreto. Concreto aqui é, na verdade, uma metáfora realizada a partir de argamassa utilizada, por exemplo, pelos pedreiros nas construções. Portanto, concreto aqui, tenta dizer do que se solidifica, do que acaba sendo sólido, do que é firme e seguro, daquilo sobre o qual nos podemos pôr em segurança. No entanto, não é bem isso que há dito na palavra concreto. Concreto é uma palavra que tem origem no latim cum-crescere > concrescere quer dizer crescer junto, crescer com. Desse modo, concreto não é só que tem massa, o que é seguro e firme. Antes pelo contrário, na medida em que é crescer, impõe movimento, dinâmica e, conseqüentemente, risco. Concreto é, assim, tudo aquilo que é capaz de desencadear realidade. E é nesse desencadear realidade que o concreto se vê melhor e mais propriamente realizado. Desencadear realidade é também, a seu modo, um modo de realização de pensar. À sua maneira, é isso que privilegiadamente realiza o pensar. É no desenvolvimento e no desdobramento desse cuidado que o pensar é mais pensar, é quando ele se realiza como um penso, ou seja, aquilo que desenvolve um processo de cura, que cuida e vela o real. É por esse desencadeamento que o pensar realiza o mais alto grau de sua vigência. Pensar é pensar o real.