Este A força da memória é um feito raro nas ciências sociais. A começar pelo título, um jogo de palavras ricamente a serviço de um argumento — em que se explicita ao mesmo tempo a agência da memória e como ela pode ser agenciada pela força, notadamente aquela que, em várias situações e por vários distintos motivos, nós, sejamos pesquisadores ou pessoas comuns, chamamos de “violência”. Trata-se de um verdadeiro e radical exercício de simetrização, de colocação sob uma mesma lupa de seres aparentemente muito distintos, mas que olhos analíticos muito argutos conseguem enxergar como de mesma natureza: policiais afastados do serviço e parentes (especialmente mães) de vítimas de acidentes. É que ambos perderam para aquela “violência” (a urbana, a do trânsito) uma parte de si (as pernas, a visão, a saúde mental, um colega, um filho, um irmão) e buscaram ajuda, apoio.