Uma poesia que parece ecoar no tempo, não como nostalgia de paraísos perdidos, mas antes, como afeto, spinosamente falando e, ainda, como permanência. Essa foi a primeira impressão que tive durante a leitura de A casa mais alta do teu coração, este novo livro de poesia de Clarissa Macedo. Uma poética que evoca um passado organicamente circular, uma paisagem que atravessa os corpos, uma aliança do sujeito poético com o mundo em seu movimento perpétuo de se arruinar e se refazer. Há, obviamente, nesse processo, o desencantamento e o espanto, e ainda um aspecto sacrificial mas, usando um termo emprestado de Michel Collot, por isso mesmo essa poesia é um contra-sepulcro. Mas não poderia ser diferente em uma escrita que assume riscos e não teme mergulhos em apneia: No tempo que trafega a chaga é mais funda/ e a sutura menos comum: precisa de metros de linha,/que seja maior o bisturi, as mãos mais hábeis. [...]