Obra-prima do realismo inglês, David Copperfield é o grande romance de formação de Charles Dickens e seu livro mais pessoal. Um dos maiores romances da literatura mundial, David Copperfield tem entre seus leitores gerações sucessivas de escritores do porte de James Joyce, Kakfa, Virginia Woolf e Tolstói, para quem é fonte de inspiração permanente. A lista inclui também o próprio Charles Dickens, que considerava o livro “seu filho favorito”. Publicada como folhetim entre 1849 e 1850, a história é um clássico relato de formação de um menino descobrindo um mundo que é, ao mesmo tempo, mágico, assustador e terrivelmente real. Dickens constrói esse universo de forma brilhante, emprestando a ele partes substanciais de sua própria biografia, mas usando como amálgama a sua inventividade incomparável como ficcionista e as tintas mais acuradas do realismo inglês do século XIX. Quando Fronteira foi publicado pela primeira vez, em 1935, causou grande estranheza nos meios literários. Romance de estreia de Cornélio Penna, simples na forma, compacto na sucessão de capítulos – em geral, curtos, como cenas ou quadros interiores dessa cidade sem nome encravada entre montanhas e fantasmas do ciclo da mineração –, fala-nos de um mundo em decadência, mas que ainda persiste em nos assombrar. O título Fronteira já remete a esse lugar indefinido entre sonho e realidade, entre passado e presente, entre natural e sobrenatural, entre crença e descrença, entre lucidez e loucura, e aos poucos vai construindo um clima de suspense e mistério – que não se resolve como novela policial, mas antes como drama interior. D. Ana, após engravidar e tornar-se viúva de seu primeiro marido, Antonio, casa-se com Pedro e dá à luz os gêmeos Nico e Pedro. A vida da família divide-se entre a cidade e a fazenda, onde estarão as duas paixões de Nico. Dois maridos, dois irmãos, dois lugares, dois romances. Se em seu livro de estreia, Fronteira (1935), Cornélio Penna não delineia os dois polos criados por uma divisa, em Dois romances de Nico Horta o signo do duplo é latente. A materialidade desse duplo se intensifica cada vez mais. Como se encoberta pelo véu opaco de uma linguagem imprecisa, ela se constrói entre o íntimo e o exterior, o delírio e a realidade, a memória e o futuro, a perdição e a salvação, e, por fim, entre a vida e a morte. Nico Horta, atormentado e incapaz de lidar com o mundo ao seu redor, oferece ao leitor caminhos narrativos fantasmagóricos e estonteantes. Publicado na França em 2019 e agora no Brasil pela Estação Liberdade, Os carregadores de água é o mais novo romance do premiado autor afegão Atiq Rahimi. Escrito com uma prosa poética e com muitas surpresas no enredo, o livro toca em questões como o exílio, a liberdade, a afeganidade, a memória e a destruição dela. Em 11 de março de 2001, as duas grandes estátuas dos Budas de Bâmiyân, no Afeganistão, são destruídas pelo Talibã, e em torno deste acontecimento são narradas as vidas de dois afegãos. Um deles, Tamim, que ocidentaliza seu nome para Tom, vive exilado em Paris e decide abandonar esposa e filha para ir de carro a Amsterdã se encontrar com outra mulher. O outro afegão chama-se Yûsef e trabalha carregando água em Cabul, sendo obrigado a conviver com as misérias de seu país e com a crueldade dos soldados do regime talibã. Os destinos dos dois jamais se cruzam.