Adolfo Bioy Casares (Buenos Aires, 1914-1999) é um dos principais ficcionistas do século XX. Autor de vasta obra, entre romances, contos e peças, recebeu diversos prêmios, como a Légion d'Honneur da França (1981) e o Prêmio Cervantes (1991). Este Histórias Fantásticas reúne catorze contos, publicados entre 1948 e 1969. Esta coletânea é mais uma oportunidade para que o leitor brasileiro descubra a força da literatura do autor de A Invenção de Morel e o reconheça como um escritor à altura de alguns de seus admiradores mais famosos, como Julio Cortazar e o parceiro Jorge Luis Borges. Borges disse que Bioy Casares era um escritor situado acima do debate que opõe os antigos e os modernos. De fato, essas Histórias Fantásticas são permeadas de um fascínio pela cultura antiga e também por uma perplexidade diante da ciência e do comportamento moderno. Há mistérios que são tramados ao redor de referências a lendas celtas e deuses pagãos, enquanto outros contos incluem seres alienígenas e tecnologias sinistras, capazes, por exemplo, de absorver e perpetuar a alma de um ser vivo. Essas investigações e exercícios de fantasia são marcados por uma erudição que envolve o leitor, sem nunca escorregar para o exibicionismo. O fantástico, em Bioy Casares, costuma se manifestar em deformações sutis da realidade física: personagens descobrem maneiras de transitar entre realidades paralelas ou congelar a passagem do tempo no isolamento de uma fazenda; pessoas ou animais mortos continuam exercendo sua presença ou interferência no mundo dos vivos; sonhos de uma pessoa atormentam as noites de outra; coincidências espantosas transformam a vida de gente comum, e anjos e diabos materializam-se tanto de maneira literal quanto simbólica. Um dos toques de mestre do autor é dar a esses eventos uma perturbadora verossimilhança.