Ramiro acorda e ninguém o reconhece. Ninguém sabe quem ele é. Nem os colegas da pensão onde mora, nem Maya, por quem alimenta uma paixão de longe. Agente administrativo da Biblioteca Pública do Estado, ele se lança na procura desesperada por alguém que o reconheça. Obsessivo em seus métodos e racionalizações, perturbado pelas lembranças que lhe atravessam e por angústias de cancelamento, Ramiro anseia encontrar algum sentido verossímil a essa estranha constatação - seu desaparecimento dos olhos dos outros. Expulso da pensão, ele erra numa Porto Alegre que arde em calores surreais, buscando companhias, tetos, olhos que lembrem dele. Inconsciente, busca no amor alguma resposta, ainda que vaga. Manoel Madeira é psicanalista e escritor. Graduado em psicologia (UFRGS), mestre em antropologia (EHESS). Foi professor da Université Paris-Diderot Sorbonne Cité, onde rea­lizou mestrado e doutorado em psicanálise. [...]