A brasilidade foi construída, desde José Bonifácio, como fruto espontâneo de um cosmos mágico onde não há barreiras entre o mundo natural e o sobrenatural, desdobrado no composto Deus-política-povo-natureza. O Dia do Fico simbolizou um pacto social ideológico onde o povo teria fornecido uma espécie de procuração social ao Imperador, entregando nas mãos do representante sagrado. O amálgama harmonizante daquele composto criou um mito perfeito, não deixando lugar para nenhum tipo de conflito, o que explica o repúdio de classes sociais pela brasilidade. O conteúdo específico e a sobrevivência desta ideologia, passando pela crítica de Joaquim Nabuco, a sistematização de Gilberto Freyre, e a atualização de Roberto Da Matta e Marilena Chauí, é o que se procura desenvolver neste livro.