Este livro aponta a forma como são conduzidas as pesquisas sobre o ensino de linguagem como um dos principais entraves à construção de uma proposta curricular coerente, coesa e eficaz para orientar uma prática docente capaz de fornecer aos estudantes do Ensino Médio uma formação orientada para a construção de uma consciência política, entendida como elemento fundamental da vida em sociedade. Ao submeter as ciências da linguagem, mais especificamente a Linguística e a Linguística Aplicada, a um processo de reflexividade, atividade que busca analisar os impactos sociais das pesquisas dessas disciplinas, evidenciou a filiação de ambas a fundamentos do paradigma científico moderno e (neo)positivista, profundamente prejudiciais às pesquisas no campo das ciências humanas. Dentre esses fundamentos se destaca o da delimitação exaustiva do objeto, que tem a finalidade de recortar e isolar fragmentos de um todo para melhor compreendê-lo e, assim, poder determinar suas leis gerais. Neste trabalho, entende-se que tal metodologia compromete as pesquisas referentes ao ensino de linguagem já que sua configuração depende da articulação de fatores de diversas ordens, as quais não podem ser circunscritas a campos disciplinares particulares, ainda que estes possam se articular com outros na formação das práticas de pesquisas interdisciplinares. A interdisciplinaridade, embora constitua um avanço se comparado às práticas monodisciplinares de pesquisa, mostra-se insuficiente para dar conta da complexidade que envolve o ensino de linguagem, por apresentar um potencial reduzido de associações disciplinares, por operar somente nos limites estabelecidos pelas possibilidades de abordagem das disciplinas associadas e, principalmente, pelo fato de não romper efetivamente com a ciência moderna. Pode-se dizer que a diferença entre a metodologia moderna e a interdisciplinar se restringe a uma questão de escopo, ou seja, por operar com a associação de disciplinas, permite que a extensão do objeto se amplie uma vez que cada disciplina acrescenta sua perspectiva de abordagem. Neste trabalho, inverte-se a lógica da pesquisa sobre o ensino de linguagem: em lugar de se fazer propostas oriundas do estudo das potencialidades do objeto, parte do postulado de que é preciso estabelecer, antes de qualquer outra coisa, os objetivos do ensino e, a partir daí, selecionar os objetos que possam viabilizá-los. Nesse processo, será necessário não só repensar os objetos produzidos por teorias puras ou isoladas, como também construir novos objetos, novos conceitos e novas metodologias. É para essas tarefas que este livro defende a transdisciplinaridade.