Apontamentos para a teoria do autoritarismo foi escrito por Florestan Fernandes com base em anotações de aulas para o curso de graduação sobre a Teoria do Autoritarismo, que ministrou no Departamento de Política da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo no final de 1977. Nosso autor escreve em uma época em que as experiências socialistas do século XX, como as da Iugoslávia, China, Cuba, URSS, estavam vigentes e disputavam a hegemonia mundial com a superpotência capitalista, numa polarização entre revolução e contrarrevolução. No plano nacional, desde 1964 vive-se uma ditadura civil-militar promovida e apoiada pelos EUA que esmaga a possibilidade de se realizar as reformas de base propostas pelo governo de João Goulart com o apoio das forças de esquerda. Consolida-se nesse contexto, segundo Fernandes, o desenvolvimento capitalista brasileiro e o seu caráter autocrático. Mas a compreensão do autoritarismo apenas em sua face política próprio da ciência política liberal mostra-se falha, uma vez que não a relaciona com o próprio movimento e necessidades de expansão do capital e do capitalismo. Assim, por um lado, o autor procura demonstrar como, no liberalismo e nos regimes fascistas e intolerantes do despotismo burguês, o elemento autoritário opera como componente estrutural e dinâmico da preservação, fortalecimento e expansão do sistema democrático capitalista. Por outro, a parar do conflito de classes como linha de análise e suas múltiplas polarizações, ainda presente m,nas críticas e perseguições do cerco capitalista de hoje, nosso autor enfrenta o debate sobre a ditadura do proletariado.Como uma democracia da maioria, ou elemento proletário da democracia, a diferencia completamente do autoritarismo e do despotismo burguês. Apesar dos equívocos e erros históricos que marcaram a experiência soviética de transição ao socialismo, tal debate, ainda hoje necessário, demonstra a vigência e a urgência da construção do socialismo como um novo projeto de sociedade.