Acabo de ler este livro escrito por José de Lima Soares e devo dizer que ele me causou uma forte impressão, por várias razões. Em primeiro lugar, porque graças a essa leitura voltei a me encontrar com temas que me são familiares a história da indústria e do trabalho no Brasil, sobre as quais eu e F. Foot Hardman também escrevemos um livro há quase vinte. Esse reencontro me forneceu elementos para comparar as condições de trabalho em fábricas brasileiras do final do século XIX e início do século XX (sobre as quais eu e Foot Hardman escrevemos) e a atual situação dos operários metalúrgicos do ABC paulistano final do século XX, analisada por Soares. Dessa comparação resulta a constatação de algumas permanências ao longo do século a exploração do trabalho assalariado e a monotonia cinzenta na rotina do operário e de muitas alterações, principalmente no que diz respeito às novas formas de acumulação. E aí se localiza, justamente, a grande contribuição teórica de Soares neste rigoroso ensaio, no qual a Modernidade deixa de ser aquela ideia aparentemente inofensiva dos discursos neoliberais para assumir sua forma concreta nas fábricas do ABC paulista por ocasião desta nova e grande ofensiva do capital sobre o mundo do trabalho. Poucos livros sobre história da indústria, ou sociologia do trabalho, foram escritos por ex-operários. Embora não seja um depoimento, pois se baseia num domínio extraordinário da bibliografia universitária relativa ao tema da reestruturação produtiva, Soares fala com conhecimento de causa quando assinala as mudanças profundas do comportamento sindical diante dessa reestruturação. Quase todas as críticas feitas por François Chesnais, professor de Paris, em relação à mundialização do Capital, podem ser comprovadas nesta pesquisa feita por Soares em nove fábricas do ABC paulista. Victor Leonardi Historiador, pesquisador, escritor, professor aposentado de História do Brasil no Departamento de História da Universidade de Brasília (UNB).