Inventário dos objetos de decorar e ferir é o livro de estreia de Bruna Gonçalves. O título nos leva para o limite tênue dos objetos e seus nomes. Não é uma coleção nem um arquivo, embora revele o ofício de quem guarda, reúne ou descarta. Etimologicamente, um inventário nos conta sobre uma descoberta. Mais que um registro de bens daquele que morre, seu inventário aponta para a relação das coisas que se inventa sobre aqueles que vivem: eu mesma relato a herança e distribuo/os objetos para a posteridade (Leitura). A tesoura que serve para ferir e decorar, não por acaso, é o primeiro objeto inventariado. As duas partes do livro, De decorar e De ferir, são dois lados de um mesmo lado. A própria poeta nos lembra que pensando bem: tudo tem/para ferir/alguma utilidade (Tudo tem). O livro se faz em torno disto: domar o que fere e devolver o corte ao que decora: não sentir/medo nem raiva dos objetos que ferem (Pergunto aos atiradores de facas). Bruna Gonçalves mostra inteligência no (...)