Neste livro, Tau Golin recria a plasticidade barroca da Expedição luso-castelhana que combateu os guaranis dos Sete Povos. De 1752 a 1756, tropas mandadas pelos reis de Portugal e Espanha invadiram o atual Rio Grande do Sul para desalojar os índios que se negavam a abandonar as suas cidades e terras, conforme determinava o Tratado de Madri (1750), convênio que reordenava as fronteiras coloniais entre os monarcas ibéricos. Os guaranis foram derrotados em 1756. Além do trem de guerra, com as armas mais sofisticadas e a nova organização dos exércitos absolutistas, os invasores trouxeram artistas especialmente músicos. Nos acampamentos e povoados, fizeram tertúlias artísticas e dançaram em inúmeros saraus. Com eles trouxeram minuetos e contradanças. São as primeiras manifestações culturais européias palacianas a chegar no atual território rio-grandense. A derrota indígena significou a perda da terra. Nela se instalou o latifúndio, com a propriedade privada substituindo os povos guaranis. Os novos donos, surgidos do processo de conquista, fortaleceram a classe dos estancieiros sulinos ao serem premiados com o módulo da sesmaria de campo (aproximadamente 13 mil hectares) pelos serviços prestados ao rei português, além de limparem o espaço para futuras ocupações. Estes estancieiros seriam o alicerce e o estilo estético da elite meridional (a oligarquia), que continuou a expressar a cultura que penetrou no sul juntamente com as armas que subjugaram os indígenas missioneiros. No pampa, área preferencial de ocupações estancieiras, os charruas e minuanos foram exterminados. No planalto, os kaingangs e guaranis sobreviventes viriam a ser confinados em toldos. Assim, a cultura palaciana européia que chegou à campanha sulina juntamente com a missão de subjugar e o mundo indígena reelaborada no universo latifundiário, formou o lastro estético para o movimento que, mais tarde, se chamaria tradicionalismo.