A presente edição de ´Um genocídio em julgamento´ traz ao púplico brasileiro uma das peças mais emocionantes da história judiciária mundial. Trata-se do processo movido contra o estudante armênio Salomon Teilirian, acusado de assassinar o ex-ministro do Interior da Turquia, Talaat Paxá, que determinara, por sua vez, o genocídio de cerca de um milhão e meio de armênios. O ´Processo Talaat Paxá´, tal como ficou conhecido por causa de seu surpreendente desfecho, suscita, para além de suas implicações jurídicas, uma discussão fundamental dentro do espectro geral dos direitos humanos: e legítima a eliminação de quem determina um genocídio, no caso, de um grupo étnico, sob o pretexto de resguardar o poder nacional? Nesse sentido, as declarações de Salomon, os debates no júri de um tribunal de Berlim, onde se deu a eliminação, com especial atenção para os pronunciamentos do promotor e da defesa, permitem a reflexão sobre a caracterização da responsabilidade penal do sujeito passivo do crime, autor ele próprio do assassinato de milhares de pessoas. Os fatos, ocorridos no início da primeira metade deste século, são ainda hoje de grande atualidade na discussão do direito das minorias frente ao poder do Estado.