A gente se acostuma a tudo é uma seleção das crônicas do autor, publicadas nos últimos anos no Globo e no Estadão. Com uma ironia certeira, João Ubaldo Ribeiro, o mais humanamente possível dos imortais, nos presenteia com um conjunto de textos sofisticados em sua simplicidade, pois nos fala como quem caminha pelo seu bairro, sua cidade, seu país, atento a tudo e a todos. Nele, João Ubaldo toma partido, sim, ainda que saiba que tudo, ou quase tudo, possa ser visto por um ângulo diverso. Ainda que nos mostre, inconformado, o caminho do namoro e da separação de um político, que insiste em nos representar, seja pelos limites do nosso pobre sistema de organização social, seja por vício verborrágico. A política encontra em João Ubaldo a sua expressão e realização clássica: somos mesmo animais políticos. João Ubaldo torce para virarmos cidadãos, e mesmo na mais inocente das suas crônicas, comentando, por exemplo, a falta de educação dos donos dos cães, ele nos adverte que esse caminho só se percorre se a gente não se acostumar a nada.