Professor de literatura brasileira em Princeton, Pedro Meira Monteiro lança-se neste livro em uma tarefa inusitada: comparar as obras de um conservador José da Silva Lisboa, o visconde de Cairu (1756-1835) e um fantasma que teima em se fazer presente o francês duque de la Rochefoucauld (1613-1680). Compreendendo os cruzamentos, entendimentos e desentendimentos dos autores, o leitor deste Um moralista nos trópicos será levado a dialogar com um dos fundadores do Império brasileiro (Cairu) e uma das testemunhas mais agudas da decadência da aristocracia moderna (la Rochefoucauld). Entre os dois o Oceano Atlântico,várias décadas e a Revolução Francesa, que mudou a forma de se ver o mundo. Aí o balanço deste ensaio, e das leituras que ele aos poucos desvenda: às ruínas da ordem social, contrapõe-se o edifício do Estado; contra o veneno da palavra mundana, ministra-se o remédio do catecismo civil e cristão; à decadência, opõe-se o discurso da ordem. Sondando o caráter construtivo da palavra voltada para a cidade, vemo-nos diante de uma encruzilhada: erguer a sociedade política é conservá-la (contra a sua dissolução) e, portanto, há que encontrar o seu justo termo, seu desenho perfeito, a conformação política capaz de conter o desvio dos cidadãos. Desvio que não é apenas o comportamento aberrante do indivíduo, mas a iminência da dissolução das regras coletivas, que se dá no ímpeto de liberdade do sujeito. Moralismo. Nestes tempos de suposta dissolução moral, as reflexões contidas neste livro podem sugerir que o recrudescimento do pensamento conservador não é apenas mais uma resposta à ruína da ordem política, mas, porventura, toda e qualquer ordem política é que no fundo precisa da ameaça da dissolução para confirmar-se. O convite à leitura, assim poderia ser formulado: leiamos com cuidado os conservadores; talvez, tenhamos mais a ver com eles do que podemos ou gostaríamos de admitir.