Em sua concisão, estes poemas desvendam horizontes. A percepção fina e a atenção aguda do poeta operam o passe de mágica que é prerrogativa da poesia: expor, desprotegido, o momento que passa. Terceira coletânea de Fernando Moreira Salles, A chavOs poemas de Fernando Moreira Salles enganam o leitor: aparecem suaves, quase tênues, para inadvertidamente adquirirem o peso de uma revelação grave. O próprio poeta atenta para sua ferramenta poética: uma "Dicção de espuma.../ trilha e compasso/ deste ser". Ferramenta contraditória no sentido de ser "de espuma" e de nomear com contundência o que é tão difícil de apreender: o tempo, a intimidade, as sensações e sentimentos mais fugazes. Nessa visita exemplar à intimidade do tempo, Salles recorre inúmeras vezes à metáfora do mar (invocada desde o título da obra), que ao mesmo tempo muda incessantemente e aponta para a eternidade: "A lembrança/ nasce/ no quieto horizonte/ como ondas/ de outras manhãs".