O iluminismo identificou o mýthos a uma forma primitiva de pensar o mundo, compatível com as esferas da religião, da fantasia, da criação poética, oposta ao lógos ou argumentação racional, base da filosofia e da ciência modernas. Este livro propõe uma questão fundamental: é justificável, no contexto dessa tradição filosófica, uma dicotomia radical, sem intermediações, entre o pensamento mítico e o pensamento racional? A discussão dessa questão tem como base o trabalho de exegese de um dos textos fundamentais do filósofo grego, o Fédon, parte integrante dos seus Diálogos. Em sua análise, Rubens Garcia Nunes Sobrinho evidencia para os leitores as relações, intelectualmente enriquecedoras, entre os pressupostos, as noções e as imagens mobilizadas pelo pensamento mítico e os argumentos tecidos por Platão em favor da idéia de imortalidade da alma.