O texto apresentado possui inegável valor no que se refere ao avanço do conhecimento em sua área. Trata-se de uma elaboração original sobre a constituição da subjetividade fundamentada, essencialmente, na teoria psicanalítica. Essa elaboração ilustra, tanto em seu conteúdo quanto na própria concepção de sua forma, uma tendência importante na psicanálise, inspirada no pensamento filosófico, sobretudo em Heidegger e Nietzche, e que tem entre os seus expoentes os pensadores franceses Gilles Deleuze e Félix Guattari. A partir dessas fontes e valendo-se também do recurso à mitologia grega e a literatura, a autora enfoca o caminho da subjetividade não como "puro devir", como às vezes são interpretados os autores que privilegia, mas como um movimento do qual participam duas forças: a do devir, certamente, mas também a da conservação, da preservação. Nesse movimento, acionado pelo desamparo primordial do ser humano - desamparo que se repete sempre ante um "acontecimento traumático" - ,o Eu oscila entre o pólo do devir e o pólo do instituído, entre a expansão e a retratação, entre a manutenção de um "próprio" e o encontro com a alteridade.