O morar, o ato de morar numa casa é, sobretudo, o ato que atende à necessidade de se ter um abrigo protetor, visto, antes de mais nada, como um invólucro condicionador das relações entre a vida privada e o meio ambiente. Porém, o que mais nos interessa é saber como pulsa a vida, como são satisfeitas as expectativas familiares naquele espaço resguardado, destinado a bastar às conveniências e ordenações de ordem cultural. Cultura e moradia; causa e efeito. Sim, uma decorre da outra quando tratamos disso em sociedades primitivas, quando cogitamos da arquitetura verdadeiramente vernácula. Mas nessas sociedades, em permanente processo de miscigenação como a nossa, onde também as riquezas não são uniformemente distribuídas, a grande maioria não mora segundo uma adequação cultural; simplesmente não habita o refúgio que lhe coube pelo destino. No entanto, algumas camadas da sociedade, ao longo de três ou quatro gerações, conseguiram urbanizar suas residências de acordo com um programa próprio, naturalmente definido através das experimentações na verdade não previamente delineadas. Mero empirismo espontâneo. Nesse grupo se enquadram os descendentes dos colonos italianos sediados nos arredores de São Carlos, na antiga Sesmaria de Babylônia, cujas casas rurais são estudadas nesse livro. Esse trabalho de Andrea Piccini, por isso, te, um enfoque pioneiro, já que são raríssimos os estudos desse teor, que cuidam das atuais moradias de gente aculturada nos trópicos. A nosso ver, pesquisa preciosa, livro importante.