Jean Starobinski - um dos principais pensadores da atualidade - atravessa a cultura ocidental, examinando o papel dos movimentos sociais de reação, conjugados com a noção atual de progresso, para pensar o fenômeno da reação na política. Em AÇÃO E REAÇÃO, o filósofo desenvolve questões instigantes que transformam as relações já conhecidas entre ação e reação. Nos parece óbvio que toda ação corresponde necessariamente a uma reação, de igual intensidade e de sentido contrário. Contudo, segundo explica Starobinski, as coisas nem sempre foram assim, até porque as duas palavras não se constituíram historicamente ao mesmo tempo - nem tampouco a reação foi sempre considerada como o oposto da ação. Essas relações são desenvolvidas pelo autor, numa problemática, ao mesmo tempo teórica, histórica e semiológica. Na Grécia de Aristóteles, existia a oposição ação/paixão, sendo a paixão sofrer sem reagir. Na época, a palavra reação ainda não existia. A mesma só se formou com a escolástica, na Alta Idade Média, oferecendo então uma visão ativa para o sofrer. E foi através dessa oposição tardia que Newton desenvolveu estudos de ação e reação na física. Com isso, a versão científica constituída pela mecânica foi fartamente utilizada nos discursos das demais ciências, podendo ser encontrada na química, na biologia, na medicina, na psiquiatria e na psicanálise. O novo par de opostos foi fartamente utilizado por diversos grupos, inscrevendo-o com outros e novos sentidos, nos campos da teologia e da filosofia. Assim como, na filosofia, Diderot incorporou a oposição numa leitura vitalista do universo, na literatura, de Balzac a Mallarmé, passando por Goethe, Novalis, Keats e Poe se encarregaram de disseminar essas palavras nas suas ficções, se apoderando da oposição à sua maneira e produzindo para ela novos destinos. Por fim, os ideários do progresso e da revolução ofereceram outras interpretações para ação e reação, que encontraram no conceito da força, formulado por Nietzsche, uma ressonância original. Starobinski escreve uma obra apaixonante, desenvolvendo um projeto teórico de lingüística histórica, no qual busca articular rigorosamente as relações sempre tensas entre pensamento e palavra, elaborando conceitos muito próximos aos de Wittgenstein, de jogos de palavra, e aos de Foucault, de jogos de verdade. Uma rica aventura intelectual, imperdível para os amantes do saber.