É uma história do interno e do externo de personagens amarradas a um mundo cuja compreensão necessita do olhar e da consciência, instâncias que, entretanto, parecem desalojar-se mutuamente. O desencontro entre o fora e o dentro é revelado por uma construção textual refinada e sutil, que suprime os limites e transita em matérias de difícil definição.O efeito de presença de realidades fantasmagóricas é forte e os pequenos dramas humanos se tornam verossímeis porque são de personagens iguais a nós – eu e você, leitor, e talvez também do próprio escritor – e ainda representações do cotidiano ruinoso, buscas sem encontro, com perdas e ruínas. Assim o conto, ao fim e ao cabo, é um relato de violência internalizada – parece que introjetada por cada sujeito, para falar com a linguagem da psicanálise – contudo nada espetaculosa, feita antes de frustrações, ilusões perdidas, desencanto, alienação e mesmo desespero, ou desesperança. O clima geral da história, apesar de não faltar ironia, é pesado.As experiências de vida das personagens são engendradas por narradores multifocais, como as lentes desses óculos modernos. São também experiências dos processos de mudanças urbanas, para melhor ou não.Isso oferece lugar para o implacável mas também para alguma piedade, em especial frente ao desespero.