Quando Ivan Junqueira estreou com Os Mortos (1964) a poesia brasileira vivia um momento de grande ebulição, marcada por buscas e indefinições, no dilema clássico de não saber o que se quer, mas saber muito bem o que não se deseja. Três dos maiores poetas brasileiros de todos os tempos – Carlos Drummond de Andrade, Manuel Bandeira e João Cabral de Melo Neto – encontravam-se vivos e ativos, e essa presença aumentava a ação disseminadora de suas poesias. As vanguardas – concretismo, poesia práxis etc. – davam sinais de plena vitalidade, mas a sua recepção limitava-se a grupos bem definidos. Muitos jovens tinham a sensação de ter chegado tarde demais num mundo velho demais. Alguns raros, como Ivan Junqueira, abriam o seu próprio caminho, sem se engajar em grupos, pela força da própria personalidade. O jovem poeta se impôs com características muito pessoais, que marcam toda a sua poesia, na qual o rigor formal – expresso pela concisão rigorosa, a seleção vocabular, o trabalho de arte e artesanato na construção do verso – se alia a uma vasta erudição. Três grandes temas predominam de forma obsessiva nesta poesia construída sob o signo do precário, do mistério e do obscuro, em perspectivas oníricas e fantásticas: a morte, de presença avassaladora, símbolo do absurdo da vida; o amor, mais fonte de conflitos do que de prazeres; e a arte, veículo de redenção ao niilismo e à angústia do poeta, que acaba por acirrar ainda mais os seus dilemas íntimos. Neste conflito entre razão e emoção, a primeira sempre prevalece, e dessa forma Ivan exclui de sua poesia tudo que seja transitório, para se deter nas eternas esfinges que desafiam o homem, em face do absoluto, que ele encara com terror e desalento: "À beira do claustro/ o monge se inclina/ e na pedra aprende/ o que a pedra ensina:/ que a vida é nada/ com a morte por cima,/ que o tempo apenas/ este fim lhe adia".