Há muitas formas de se aceder a uma tradição espiritual e religiosa. Uma consiste em entrar no universo dos temas e palavras-chaves procurar entendê-lo, compreender sua arquitetônica e aderir ao seu credo de convicções. É o caminho mais comum de exegese e das teologias. Por este método se vai longe, mais não se sai do universo religioso. Na verdade, não se vai até o fundo da verdade da religião. Há outra, certamente, mais fecunda. Trata-se de ir além das palavras, de chegar ao que subjaz a tudo isso: a experiência originária e existencial. Compreender uma tradição espiritual é mergulhar na experiência da qual ela vive, donde tira todos os ditos e conta todas as histórias sapientes. É o que faz Nilton Bonder neste livro luminoso A Arte de se Salvar. Aqui não se trata da religião judaica em si. Trata-se da vida, de desespero, de sua capacidade de alegria, de seu enfrentamento com os problemas do caos existencial e da morte. Mas estas situações são iluminadas a partir de uma caminhada feita pela tradição espiritual do judaísmo bíblico e histórico, especialmente a de um de seus mestres, Reb Nachman de Bratslay, um sábio rabino russo do final do século passado. Nilton Bonder se nos revela em exímio analista, seja da existência, seja das ancestrais tradições do judaísmo. Páginas da vida com todas as suas contradições iluminam páginas do Antigo Testamento, assim como páginas do Antigo Testamento e de belíssimas histórias das tradições chassídica e rabínica iluminam páginas da vida. Esta mútua frutificação faz o segredo e compõe a luminosidade deste livro.