Esse livro sintetiza a tese de doutorado homônima, realizada entre 2004 e 2008, num bairro de periferia da zona norte de Belo Horizonte, que analisou as práticas de leitura de quatro famílias de uma escola, cujos alunos receberam os livros do Programa Literatura em minha casa. Implementado pelo Ministério da Educação, nos anos de 2001 a 2003, este foi um dos programas do Plano Nacional de Biblioteca da Escola - PNBE. Denúncias, num primeiro momento, da não entrega dos livros aos alunos e, posteriormente, de que os alunos os estavam vendendo, causaram muita discussão e polêmica. A partir dessas denúncias muitas questões se colocavam em relação ao trajeto que os livros que foram entregues aos alunos estariam percorrendo. Que valor teriam nas casas, onde, supostamente, não há livros nem leitores? Quem seriam aqueles que usufruíam deles nesses grupos? Leitores? Na análise, então, procuram-se leitores no rastro dos livros deste programa institucional de promoção da leitura que, de forma inusitada, doou livros literários aos alunos da 4ª e da 8ª séries do ensino fundamental das escolas públicas. Ao seguir esses rastros, buscou-se dar corpo e voz aos leitores anônimos que, de alguma forma, tiveram acesso ou contato com esses livros. Se, na perspectiva da política, há uma série de mediadores entre a criança e o livro, nesse Programa, não haveria mediadores, a criança seria a dona do livro. Que condições de apropriação da leitura literária a posse do livro e a inserção do livro no meio familiar, possibilitavam? Essa inserção alterava, ou não, as práticas de leitura dessas famílias? Ou a posse do livro seria apenas um fetiche, como nos alerta Edmir Perrotti (1999)?