Nas salas abafadas e úmidas cresciam fileiras de deuses. O encontro com a poesia de Krystyna Dabrowska desabriga as pequenas seguranças, as mitologias miúdas do habitual. De Heráclito a um agricultor da aldeia Wasily, do umbigo de um bebê às security questions na página da embaixada dos Estados Unidos, do orfanato etíope à lavadeira grega num avental surrado, produz-se nesta poesia uma cronologia própria da voz, que faz da presença do outro seu meio de propagação: é esta a viagem de Dabrowska, paciente, veloz, humilde e insolente. Apresenta-se aqui uma seleção de poemas recolhidos dos quatro livros da premiada poeta polonesa, uma das mais importantes de sua geração. Krystyna Dabrowska constrói com sua poesia uma cartografia de minúcias, com versos de rigor e erudição, de nitidez e erotismo: Dois traços horizontais trêmulos — os nossos corpos; Que nome os seus dedos têm para mim?. Dabrowska não é uma poeta prolífica, o que sublinha a rigidez do seu silêncio.