O esforço de escrever uma história do tempo presente é tão intenso como o de começar uma genealogia de pendências históricas irreparáveis. O presente livro persegue esse objetivo, por duas vias distintas. Por um lado, intenta refletir sobre o imediatismo dos acontecimentos da história e de seus agentes sociais quando, por exemplo, busca compreender as demandas que os jovens da cultura hip hop trazem à tona para repensar a agenda pública da nação. Mergulha, por outro lado, no imprevisível túnel da história mais remota, a fim de inventariar os links que a tradição de luta e resistência da cultura negro-mestiça legou para a atualidade. Rafael de Sousa conclui, então, que a música negra esteve sempre com os pés fincados no presente, mas com o pensamento orgulhosamente enlaçado com as tradições e costumes de seus ancestrais. O hip hop da república dos manos veio para atualizar essas tradições, ao mesmo tempo em que busca oferecer resistência às hostilidades que os negros sofrem longe de suas terras natais. A oferta parece ser irrecusável, já que novas possibilidades de interpretação do mundo e das identidades e uma cidadania conseguida por esforço próprio podem agora ser conhecidas quando forem abertas as páginas deste livro.