Orígenes Lessa escreveu romances, reportagens, um curioso livro sobre técnica de vendas, uma abundante literatura infantojuvenil, tão importante para o povinho miúdo de nossa época quanto a obra de Monteiro Lobato, e alguns dos contos mais saborosos jamais imaginados e publicados no Brasil. Quem o lê pela primeira vez tem a impressão de que é fácil escrever histórias como as dele. Tão simples, tão humanas, narradas em tom malicioso, levemente irônico, por vezes cruel. Impressão. A realidade é muito diferente. A clareza, a espontaneidade, o estilo enxuto e objetivo, o domínio técnico, tão preciso que dá ideia de que nem existe técnica, nada têm a ver com aquela simplicidade, sinônimo de pobreza, mas sim com a simplicidade das coisas naturais, resultado de processos complexos, como a goiaba ou a manga madura pendurada no galho. Filho de um pastor protestante, Orígenes já nasceu com tinta de escrever no sangue. O pai era um erudito, professor de teologia, e autor de vários livros sobre temas históricos. Em sua missão de religioso, Vicente Themudo Lessa não esquentava lugar. Morou em Lençóis Paulista (onde o futuro escritor nasceu), em São Paulo, em São Luís do Maranhão, onde Orígenes começou a desenvolver o seu talento de escritor. O primeiro trabalho foi escrito em caracteres gregos, copiados dos livros do pai. A estreia em livro se deu aos 26 anos, um volume de contos intitulado O Escritor Proibido (1929).A partir daí, não parou mais. Publicou dezenas de livros. Dez volumes de contos, nos quais explorou as mais extremas situações, do mais simples caso fisgado do cotidiano ao fantástico, sempre com um sentido de crítica, mas também de solidariedade e simpatia humana. O que levou a prefaciadora dos Melhores Contos Orígenes Lessa, Glória Pondé, a afirmar que "a literatura de Orígenes Lessa é, toda ela, de comunhão".