A boca abre e fecha, fala e cala, abre as cortinas, anuncia e encerra. Por ela, sussurramos aquilo que com muita dificuldade não gritamos e urramos aquilo que se espalha pelas veias e cerra os punhos (e os olhos) em lágrimas vermelhas. O mundo que acessamos pela boca, embora muito não tenha gosto, todos sabemos o sabor que tem. Entre o azedo e o doce da saudade, o sal do mar, da pele, das lágrimas, o doce do cafuné, do enjoativo, daquilo que engolimos a contragosto. Teimosia e memória, é sobre tudo aquilo que degustamos (e desgostamos) em um mar de tons, toques, carícias e carências. Salgar o feijão, entornar o leite e adoçar o café. Os medos e as medidas. Afinal, o homem é o único ser vivo que permanece no sol mesmo quando o couro queima. Aqui experimentamos o gosto da vida por meio das palavras, como quando sentimos o sabor pelas pontas dos dedos. Daquilo que feito pimenta faz a gente lembrar que o sangue corre (e escorre). É um lembrete de que a vida é movida pelo fogo, não (...)