Marte e os marcianos fazem parte do imaginário dos terráqueos desde muito antes da chegada do Homem na Lua. Antes que soubéssemos através das célebres palavras transmitidas pela televisão para o mundo inteiro que "a Terra é azul", sonhamos com pequenos seres verdes, curiosos, inteligentes, maldosos ou bem mais evoluídos que nós, a nos oferecerem o eterno embate com o desconhecido, com o imponderável, num exercício sempre profícuo de aprendizado e tolerância. Ray Bradbury mergulhou fundo nesse exercício de imaginação. Autor de Fahrenheit 451, romance que vislumbrava um futuro sombrio em que livros eram queimados e que o consagrou mundialmente, Bradbury, nessas crônicas, imagina um futuro menos desolador: a colonização do planeta Marte, empreendida para que a Humanidade continuasse existindo, em busca de recursos naturais e empregos, é descrita como uma divertida mistura de um cotidiano curioso - pães de cristal, fogo elétrico para se beber, icebergs que funcionam como congeladores - e de uma dramática avaliação da vida social e do conflito de culturas. Embarcar nessa viagem espacial é ir ao encontro de um vasto imaginário, que inspirou diversos filmes e fez parte da fantasia de várias gerações. Bradbury, espécie de pai da ficção científica, mostra que a mistura de imaginação e humor nunca se tornará obsoleta, ainda que o leiamos numa data posterior ao futuro imaginado por ele.