Neste livro, a autora analisa as paixões do pantaneiro/bugre na obra de Manoel de Barros, poeta enraizadamente pantaneiro, que ressalta em sua produção poética as cores e a geografia do Pantanal. As paixões, que afloram em sua poética, permitem uma visão privilegiada dos modos de constituição e de construção lingüística dessas paixões. "Uso a palavra para compor meus silêncios" - esta é a deixa para faiscar em nós o desejo de leitura do texto-paixão! Todas as línguas têm categorias de expressão que se apresentam repetidamente e correspondem a um mesmo modelo constante, porém suas funções, seu sentido mais agudo, só aparecem quando elas são desnudadas no exercício da linguagem/língua. Em uso, a língua mostra marcas particulares - variações/variedades - de grupos, regiões, diversidades que se constituem em seu discurso, quando assumidas por um sujeito. Esse discurso parte da identidade de um indivíduo que, por sua vez, emerge de um universo de conhecimentos e de paixões construídos dentro de determinada cultura. Em Manoel de Barros, poeta pantaneiro, a autora encontra, flagrando o discurso, um campo de possibilidades de visão dessas características, pois sua produção poética ressalta as cores e a geografia do Pantanal conjugadas numa estética viva que, verso a verso, tece e traça o perfil identitário do homem pantaneiro e como isso reflete na poesia do poeta, para representar um ethos da alma pantaneira. As paixões afloram no enredar poético e, assim, permitem ao analista uma visão privilegiada dos modos de constituição e de construção lingüística dessas paixões. "Busco ver em que medida a cultura e o homem pantaneiros estão imbricados na obra de Manoel de Barros. O autor expõe a memória social de seus grupos, de onde convergem suas tradições, costumes, como ressignificam suas atitudes, muitas vezes, em total conflito, porque o conhecimento é o resultado de uma postura avaliativa diante da vida, do mundo real e resulta de uma opinião que pretende ser pessoal. O resultado é, em meu entender, uma manifestação, aqui e agora, de um processo discursivo muito social e, sobretudo, muito particular. Produtora e reprodutora de uma cultura. Cultura, nesta perspectiva, está na inter-relação Discurso, Sociedade e Cognição e seria, então, a produção de efeitos de discurso (o que leva o homem ao conhecimento de si mesmo e do mundo). Cultura não vista só como produtora de efeitos pragmáticos (no sentido do senso comum), utilitaristas que fazem parte do cotidiano do homem (construção de casas, técnicas de plantio, etc). Referência do mundo, mas ao mesmo tempo estruturante do conhecimento e extensão simbólica de nossa ação sobre o mundo", concluiu a autora. Manoel Wenceslau Leite de Barros (Manoel de Barros) nasceu em Cuiabá, Mato Grosso e, em seguida, mudou-se para o interior do Estado - Corumbá. Atualmente, vive em Mato Grosso do Sul. Grande parte do desenvolvimento de sua obra, iniciada em 1937, com Poemas concebidos sem pecado, foi escrita fora de sua terra natal.