Não há saídas, só ruas, viadutos, avenidas assim canta Itamar Assumpção no seu clássico Intercontinental! Quem diria! Era só o que faltava! Não há saídas, só crimes, pesadelos, feridas: é o que nos diz Ronaldo Cagiano neste Concerto para arranha-céus. O tema que amarra praticamente todos os contos aqui reunidos é o da metrópole contemporânea. Cuidado, leitor solitário! Segure este livro com luvas de borracha. Figuras soropositivas deambulam por essa armadilha transfigurada: labirinto metafísico, sem entrada ou saída. Armadilha povoada de solitários (eu, você, eles) acostumados à manada. A cidade de Cagiano é a miragem traiçoeira, feita de lâminas enferrujadas que arranham, contaminam, sodomizam os protagonistas das suas narrativas enraivecidas. Há cadáveres na avenida, psicopatas nos elevadores, ninfomaníacas no consultório dentário, sonâmbulos no baile de carnaval. Cada rua guarda a sua patologia, a sua história extraordinária, o seu fantasma tragicômico. Essa cidade pode ser Brasília. Também pode ser São Paulo, Nova York, Tóquio: o ódio e o tédio não conhecem limites. A topografia reproduzida nestas páginas é a do apocalipse que se aproxima. Por isso o tom áspero de profeta enfurecido, por isso a voz furiosa cultivada pelo autor. Feito João Antônio, Samuel Rawet ou Luiz Ruffato, aí vai Ronaldo Cagiano: agarrado ao seu remorso, abraçado ao seu rancoOs relatos de "Concertos Para Arranha-Céus" vêm confirmar Ronaldo Cagiano, também poeta e crítico, como um dos mais consistentes dentre os narradores contemporâneos brasileiros, com sua prosa vigorosa e precisa. À primeira vista, ou em uma primeira leitura, predomina a impressão da diversidade, diante dos textos mais longos, alguns, e mais breves, outros, passando do monólogo interior e da narrativa na primeira pessoa até o registro mais linear, bem descritivo. Também há diversidade temática: os enredos variam ao longo do tempo; tratam de diferentes épocas e lugares, desde uma Cataguases e as metafóricas Santa Rita de Duas Pontes e Curralópolis do início da década de 1960, até hoje, o aqui e agora, com passagens cuja ação chega a este 2004.Os relatos de "Concertos Para Arranha-Céus" vêm confirmar Ronaldo Cagiano, também poeta e crítico, como um dos mais consistentes dentre os narradores contemporâneos brasileiros, com sua prosa vigorosa e precisa. À primeira vista, ou em uma primeira leitura, predomina a impressão da diversidade, diante dos textos mais longos, alguns, e mais breves, outros, passando do monólogo interior e da narrativa na primeira pessoa até o registro mais linear, bem descritivo. Também há diversidade temática: os enredos variam ao longo do tempo; tratam de diferentes épocas e lugares, desde uma Cataguases e as metafóricas Santa Rita de Duas Pontes e Curralópolis do início da década de 1960, até hoje, o aqui e agora, com passagens cuja ação chega a este 2004.Não há saídas, só ruas, viadutos, avenidas assim canta Itamar Assumpção no seu clássico Intercontinental! Quem diria! Era só o que faltava! Não há saídas, só crimes, pesadelos, feridas: é o que nos diz Ronaldo Cagiano neste Concerto para arranha-céus. O tema que amarra praticamente todos os contos aqui reunidos é o da metrópole contemporânea. Cuidado, leitor solitário! Segure este livro com luvas de borracha. Figuras soropositivas deambulam por essa armadilha transfigurada: labirinto metafísico, sem entrada ou saída. Armadilha povoada de solitários (eu, você, eles) acostumados à manada. A cidade de Cagiano é a miragem traiçoeira, feita de lâminas enferrujadas que arranham, contaminam, sodomizam os protagonistas das suas narrativas enraivecidas. Há cadáveres na avenida, psicopatas nos elevadores, ninfomaníacas no consultório dentário, sonâmbulos no baile de carnaval. Cada rua guarda a sua patologia, a sua história extraordinária, o seu fantasma tragicômico.