Uma boca mastiga cerca de 47 vezes para partir um nervo. A velocidade média de resposta nervosa de um dedo anular é de 56 metros por segundo. Nesse livro, o impulso é maleável e conduzido rapidamente, mas impossível de partir. Escrito em meio a um eminente colapso global, toma formato de jornal dos absurdos, a linguagem de manchetes induz o leitor a não distinguir realidade e ficção. Uma escrita poética que traz à tona os saltos do espaço-tempo, assim como nos levam a compreender a dimensão distópica que vivemos. O nervo de coxa na fila do açougue, já não sabemos se é do homem ou do animal. Ao longo da leitura, talvez você se pergunte: quem caminha para o abatedouro, nós ou o frango? No país do maior rebanho bovino do mundo, o ser humano se transmuta na fome e no prato. E Maria Clara, nos dá uma única certeza: caminharemos com um deboche irreverente, enquanto ela veste nossos ossos, nos dá o que comer. Isabela Equor