No início de 1943, depois de anos em silêncio, Antonin Artaud, encerrado no asilo de Rodez, recomeçou a escrever. No início, ele escrevia cartas aos amigos para contar seu sofrimento e as agruras pelas quais passava; como exercício, traduz textos do inglês: a pedido de um médico do asilo, Lewis Carroll, depois, por iniciativa própria, um poema de Edgar A. Poe, Israfel. Esta tradução deu-lhe oportunidade de um trabalho de reescritura completa. Artaud restitui não o poema ao pé da letra, mas inventa para ele outros termos e com isso reconquista sua língua. O autor traz para seus possíveis leitores e para os leitores de Artaud trechos do poeta dos quais faz uma leitura teórica e crítica, mas também faz mais que isto, pois foi capaz de manter com sua obra um diálogo poético e emocionado (emocionante!). A leveza do texto esconde, no entanto, o peso do instrumental conceitual que sustenta uma leitura minuciosa, sofisticada e criativa.