Sempre tive a impressão de que tudo que sabemos hoje teve origem na Grécia, em uma época em que os deuses personificavam os defeitos e as virtudes humanas. E não é de estranhar que isso tenha me causado um certo fascínio: eram os deuses astronautas? Ou apenas um povo vindo de uma ilha distante? Como vivem os gregos da atualidade (em meio à crise, sem bacanais e intervenção divina)? Esse fascínio me levou a Atenas seis vezes e, na última delas, resolvi me comportar como um cidadão local. É claro que visitei lugares turísticos - afinal, como resistir? -, mas fui além. Descobri pequenos recantos, que pouco significam para aqueles que estão de passagem, mas que transmitem a alma da cidade e de seus moradores. O Mercado Público e as pequenas tavernas onde os atenienses comem, bebem, cantam e dançam, por exemplo, são verdadeiras instituições nacionais. Gosto de imaginar que existam cidades, assim como algumas pessoas, que são únicas. E Atenas, para mim, é uma delas. A capital é uma mistura de aromas, ruídos e visões que fazem bem para os sentidos. É uma pólis incomparável. Eu, que fui à Grécia em busca da mitologia, da filosofia e da democracia - os três pilares da cultura ocidental -, encontrei um povo descrente, desorientado. A Grécia, que moldou o mundo, agora não consegue moldar-se a si própria. Atenas é um retrato em cores berrantes da confusão em que se meteu o mundo contemporâneo.