Na "virada do Verão 80" havia uma nova sensibilidade no ar. A década começava ao ritmo da abertura democrática, "lenta, segura e gradual". Nesse sentido, aos poetas que então iniciavam sua trajetória intelectual já não interessava tanto combater a ditadura militar, mas falar, com liberdade, sobre si mesmos, seu mundo e seus interesses. Saíam de cena o artista engajado, o poeta de vanguarda, o tripé sexo, drogas e rock-and-roll, as polêmicas culturais e os hippies. Iniciavam-se a era da informação e a "década perdida", em termos econômicos, para o Brasil. Não obstante, intensificava-se a cultura pop; surgiam os yuppies, o Rock Brasil e o teatro besteirol. Renovavam-se as artes plásticas, o cinema e a música popular. Enquanto isso, os novos poetas do período rejeitavam o binômio "arte/vida" dos anos 70, agora insuficiente para justificar toda uma produção cultural. Era preciso preparar-se intelectualmente, ler os melhores autores, estudar as técnicas do verso, traduzir poesia, tudo isso, às vezes, antes mesmo de estrear em livro. Herdeiros das tradições clássica e moderna das líricas brasileira e estrangeira; das vanguardas dos anos 50 e 60, mas também da comunicabilidade da poesia marginal dos anos 70, através da preferência pelo poema curto e pela adoção de uma linguagem informal, lúdica, não literária, os novos poetas da década de 1980 não abriram mão dessas características e acrescentaram, ao menos, mais uma: a busca de uma poesia mais reflexiva, intelectualizada, embora sem se afastar das emoções e das demandas do mundo contemporâneo.