Esta história baseia-se em alguns fatos reais. Ocorreu numa época em que o romantismo tentava superar os preconceitos: 1952. O mundo já havia absorvido o golpe da segunda guerra mundial. Havia pesar nos olhares. Esperança, talvez. Um mundo sofrido exigia coragem e superação. Os hábitos mantinham-se tradicionais. Num mundo dominado pelos homens, cabia às mulheres o servir incondicional, mantendo-se casta até o casamento, muitas vezes imposto pela vontade do pai. Todo ato em contrário era interpretado como rebeldia, sujeito a repreensão severa. E o que dizer de uma menina de treze anos, sem experiência, criada no campo, acostumada à vida rústica, entre plantações e a criação de vacas, leitões e cabritos? Maria do Carmo, Carmo, mantinha a pureza da sua idade, porém, carregava as marcas de muito ter visto e pouco ter podido falar. Mas agora, tantos anos depois, sua vida havia sido marcada pela constante necessidade de superação. Ter vivido fez de Carmo uma mulher em busca contínua: queria ser feliz... Há momentos em que tudo parece fugir do controle, como se inexistisse caminho possível. Há outros em que se tem a nítida sensação de estar fora do tempo. Momentos em que atos, crenças e princípios parecem estar em xeque. Manter-se fiel a estes princípios deveria ser suficiente para garantir felicidade. Mas não é. Garantir o quê, num mundo marcado por contradições? O individualismo, o interesse, o preconceito, a exclusão estão presentes, a espera de suas vítimas, aqueles que não se comportam como a maioria "normal". É o preço a ser pago pela sinceridade. Sofre quem é mais verdadeiro, quem tem coragem de dizer o que pensa e age de acordo com sua coerência e convicções. Maria do Carmo ousou. Expôs sua crença ao limite da existência: queria ser feliz! Viveu. Sofreu mais, em nome do amor. Como condenar seus atos se suas opções foram sempre regidas pela emoção? E é com emoção o convite à leitura: para lembrar que somos humanos, falíveis, imperfeitos. Mas também para manter bem acesa a chama da busca, da perfeição da existência compartilhada com quem se ama. Tão perturbador, tão próximo, ao alcance das mãos, para em seguida tornar-se tão quieto, distante, efêmero, eterno e superado, o primeiro amor. Envelhece a existência. A lágrima já não escorre. Seco, frio, implacável, o destino não impede o olhar, ao perceber que, num lapso de tempo, intensa, a vida passou e, com ela, encanto e desencanto. O mesmo olhar, agora maduro, teimoso, no entanto, ainda permite a emoção da surpresa. João Carlos Baracho é Médico Geriatra, ex-Secretário de Saúde de Curitiba e autor do livro Paixão não tem Idade.