Com a aproximação do bicentenário da abolição do comércio atlântico de escravos, James Walvin procedeu à selecção dos textos históricos que têm a capacidade de recriar o enquadramento social e económico que tornou possível - e até moralmente aceitável - uma instituição tão bárbara e desumana. Colocando lado a lado estes documentos históricos e a própria narrativa de Walvin, incisiva e impiedosa, do ponto de vista histórico, as duas perspectivas formam um estudo definitivo sobre o tráfico de escravos do Atlântico, permitindo a compreensão mais nítida da ascensão e queda de um dos episódios mais vergonhosos da história europeia, bem como das repercussões que ainda se fazem sentir na sociedade contemporânea. James Walvin sugere que a viabilidade económica dos territórios colonizados da América do Norte ficou a dever-se ao uso de escravos para o trabalho nas plantações. Na época, considerava-se que os índios americanos nativos eram desprovidos da imunidade necessária para sobreviver às enfermidades trazidas pelos colonos brancos. O trabalho escravo foi determinante para o sucesso das primeiras plantações de açúcar e tabaco, que conduziu a uma procura crescente destes produtos na Europa, o que alimentava, por sua vez, a expansão do tráfico de escravos transatlântico. Walvin sugere ainda que a riqueza e a posição de poder hoje ocupada pela Grã-Bretanha e pelos Estados Unidos se deve, em grande medida, à exploração dos escravos, uma vez que os bens produzidos por estes eram fundamentais na economia de ambos os países. Para além disso, o trabalho escravo fomentou e acelerou a própria Revolução Industrial e a emergência da indústria capitalista. Portanto, Walvin considera que esta é uma dívida ainda não saldada, pois, para além de todos os infames pressupostos morais que possibilitaram a exploração de trabalho escravo, os danos infligidos no continente africano incluem uma perda maciça de população e o desrespeito pelas estruturas sociais, de modo a assegurar o tráfico negreiro ao longo de mais de quatro séculos. A perda de dignidade, devido ao facto de lhes ser sistematicamente negada a humanidade por parte dos europeus - o único modo de justificarem o tratamento que lhes davam - foi talvez a consequência social mais insidiosa.