Utilizando a noção de espaço como centro da discussão, este livro aborda, no contexto ateniense, os modos de apropriação do espaço da cidade por habitantes na vida cotidiana e suas relações com o modelo das esferas pública e privada da vida do homem livre e cidadão. As interações sociais no espaço urbano são perpassadas por projetos de controle sobre o espaço habitado, favorecendo a vinculação estreita do cidadão com esse espaço, nas reiterações cotidianas de sua própria condição de habitante privilegiado. Nas questões ligadas à produção de espaços sociais, discutem-se também as relações de gênero, basicamente no que concernia à presença da mulher entre o dentro e o fora da casa (estrutura física). A abordagem transversal desta obra permitiu a autora elaborar alguns conceitos como: espaço doméstico - na História e na Arqueologia costuma-se ligar tal espaço ao interior de uma casa, estrutura física de habitação. Entretanto, esse espaço doméstico na cidade ateniense clássica envolvia em termos de percepções do espaço não apenas o lado interno das casas, mas a articulação entre interações internas/externas, na vida cotidiana ou na vida comum; espaço cívico - este corresponderia ao espaço habitado sob a ótica de uma ideologia cidadã de intervenção no espaço cotidiano, ultrapassando a capacidade dessa perspectiva cidadã de conferir a ele inteligibilidade. O cotidiano ateniense é tomado de forma dupla: como campo de investigação e como objeto histórico; como problema e tema de uma sociedade específica, e não como o universal estruturante de qualquer sociedade. Não porque não haja, em todos os lugares, relações corriqueiras, hábitos e automações; mas porque só em algumas das diversas sociedades, no espaço e no tempo, a dimensão do habitual se apresenta à consciência - e isto significa dizer ao saber e ao discurso - como lugar privilegiado da prática (e da reprodução) social.