Sendo este o último volume da História das Ideias Políticas, é de se perguntar: como se poderia encerrar uma coleção monumental, composta de 3 mil páginas e quase uma dezena de títulos? Em vez de oferecer uma simples conclusão, o oitavo volume da série relata o clímax da trama de descobertas e enganos pela qual Eric Voegelin conduziu seus leitores, da Antiguidade até a Era Moderna. A Crise e o Apocalipse do Homem põe seu foco sobre pensadores que, embora tenham experimentado verdadeiras epifanias, obcecaram-se por elas em prejuízo do mundo a que afinal se referiam. O livro expõe a superficialidade do Iluminismo, que reduziu a vida humana à técnica; algumas de suas consequências políticas, na Revolução Francesa; e as respostas necessárias, não obstante estreitas, vindas de homens que interiorizaram a crise: a intuição positivista de que há um valor divino nas conquistas civilizacionais e a ambição de Karl Marx de investigar o âmago da matéria, por exemplo. O problema, aliás terrível, é que a solução que foi aí sustentada consiste em transformar o apocalipse divino em apocalipse humano. Perceber a magnitude desse equívoco, e a inconsistência existencial que subjaz a ele, constitui a epifania principal do próprio Voegelin razão por que esta série permanece inacabável, e sua leitura, uma condição e um convite para o entendimento da obra voegeliniana.