Iracema nasceu de uma cuidadosa conciliação lingüística de preocupações de José de Alencar com a cultura nacional e o público leitor de sua época. Queria uma literatura profundamente brasileira, mas que pudesse difundir-se num meio cultural ainda desenraizado, de gosto europeu. Encontrou essa raiz nacional na linguagem indígena, em seus usos e construções. A própria tradução das palavras nativas para o português revelava já uma visão de mundo metafórico, de grande efeito literário. Abandonou o projeto inicial, de escrever em versos, para dar lugar a essa linguagem - a prosa era mais maleável e oferecia mais recursos para trazê-la. Ao gosto dos leitores. Procurou enraizar a narrativa também na história do Brasil, num contexto regional (a colonização do Ceará). Desenhou sua protagonista com base nos valores da época: heróica, pura, de uma singeleza natural. E a batizou de Iracema - anagrama de América. O resultado é um dos maiores clássicos da literatura romântica no Brasil.