A par desses traços exorbitantes (para usar uma imagem cosmonáutica) e inovadores da poesia de Marcel Fernandes, admiro também seu relacionamento sério com a poesia. O sentido apurado da cadência dos versos. A força anafórica como vetor de ritmos inumeráveis. A tradição como valor que se transfigura aqui e agora. O cochilo do céu não sucumbe à tirada espirituosa nem à concepção da poesia como jogo autocentrado que há tempos, entre os seus praticantes, vem resultando em mero virtuosismo metalinguístico. O respeito e a seriedade que o poeta dispensa à arte da poesia e que nos dá a ver em seu O cochilo do céu nada tem daquela gravidade retórica e afetada que as convenções literárias associam ao gênero. Seu apetite e seu amor críticos pelo poema mantêm sob controle essa disposição quase inescapável à ironia e ao cinismo a que estamos sujeitos poetas e leitores contemporaneamente.Por Ronald Augusto.A par desses tracos exorbitantes (para usar uma imagem cosmonautica) e inovadores da poesia de Marcel Fernandes, admiro tambem seu relacionamento serio com a poesia. O sentido apurado da cadencia dos versos. A forca anaforica como vetor de ritmos inumeraveis. A tradicao como valor que se transfigura aqui e agora. O cochilo do ceu nao sucumbe a tirada espirituosa nem a concepcao da poesia como jogo autocentrado que ha tempos, entre os seus praticantes, vem resultando em mero virtuosismo metalinguistico. O respeito e a seriedade que o poeta dispensa a arte da poesia e que nos da a ver em seu O cochilo do ceu nada tem daquela gravidade retorica e afetada que as convencoes literarias associam ao genero. Seu apetite e seu amor criticos pelo poema mantem sob controle essa disposicao quase inescapavel a ironia e ao cinismo a que estamos sujeitos poetas e leitores contemporaneamente.Por Ronald Augusto.