A década de 1990 foi, por excelência, a da consolidação de uma série de conceitos e valores que vinham alterando o debate cultural, a percepção da sociedade e as perspectivas em relação ao tempo e ao espaço. Foi quando se disseminaram previsões como as do fim da utopia, das polarizações ideológicas e da própria História. É também, em contrapartida, a década na qual os projetos contemplaram os princípios de alteridade, pluralidade e diversidade. A poesia não passou ao largo dessas mudanças; no correr dos anos, enfrentou novos vetores e, a despeito daqueles que temiam a crise das vanguardas, a acomodação da contracultura ou a cristalização do Modernismo, renovou-se, dando outro ânimo à produção poética nos últimos dez anos do século XX. Para este volume foram selecionados 45 poetas que, longe de formar um grupo homogêneo, representam vozes singulares e maneiras particulares de ler a tradição literária, inserindo-se nela conforme critérios eleitos pelos próprios autores, pondo em questão fundamentos que antes norteavam a criação, como a originalidade e a invenção. Sem precisar romper com o passado, sem a necessidade de um gesto inaugural, os poetas lançaram-se contra a banalização das asperezas do cotidiano e a instrumentalização do idioma, explorando com autocrítica e rigor conteúdos e formas que visam, mais uma vez, despertar o leitor para o potencial da poesia em apreender o mundo por meio da linguagem. Pós-tudo, por certo, mas também um novo começo.