Isto não é um poema, mas parece, porque isto é uma câmera extraordinária (Imagino closes, fusões e planos-sequência a cada cigarro à meia luz, escreve a poeta). Isto não é um poema, mas parece, porque isto é um diário polifônico dos muitos modos de existir (os belíssimos Vaga-lumes resistentes a tempestades frias, de Mariana Torres, remetem tanto, lidos em clave de metáfora elétrica, à sobrevivência dos vaga-lumes, de Pasolini/Didi-Huberman); Isto não é um poema, mas parece, porque isto é um acelerador de partículas provocando mil e uma colisões entre o real e o imaginado, entre o sonhado e o vivido; é o alto-falante da mente cotidiana transmitindo perguntas poderosas para um oráculo noturno: Lampejos de sombras íntimas será a isso que chamam carma?. Sartre dizia que imaginar é dar ao imaginário um naco de real para roer, e quando Mariana, no ótimo poema de abertura, Imagina, salta da infância ao luto, numa velocidade tão vertiginosa quanto a leveza com que nos leva, (...)